terça-feira, 25 de março de 2008

Semana Santa de Pecado


SEMANA SANTA DE PECADO

- Na minha época não tinha nem música – disse a minha mãe sobre os sons dos carros na Praça Morena Bela, em Serrinha – BA. Eles emitiam pagode baiano e outros “Créus” da vida. Quem já ouviu pagode baiano sabe do que estou falando e quem já ouviu funk carioca também. Aliás, “o pagode está para a Bahia como o funk está para o Rio”*

Mais adiante, ela completou: - É... A Igreja Católica perdeu poder...

A semana santa é um período religioso que celebra a subida de Jesus ao Monte Calvário, sua crucificação e sua ressurreição. Esses são somente os motivos que mais se popularizaram, porque, desde o século IV, a semana santa começa no Domingo de Ramos – é uma semana mesmo! – depois tem a Segunda – feira Santa, Terça - feira Santa, Quarta – feira Santa, Quinta – feira Santa, e, finalmente, os dias mais conhecidos: Sexta – feira Santa, Sábado de Aleluia e Domingo de Páscoa.

Especialmente este ano, passei um feriado de Semana Santa mais “religioso”. Fui a Serrinha-BA, terra onde a minha mãe cresceu. Lá fiquei hospedada em uma casa exatamente ao lado da Igreja Católica da cidade. Chegamos na Quinta-feira Santa e à noite fomos ver a procissão, que saía da Igreja. Quando os fiéis finalmente saíram da Igreja, eles começaram a se organizar para seguir com a procissão até o monte onde ficava uma Santa da cidade (espécie de Cristo Redentor, mas que não é nenhuma oitava maravilha do mundo).

Eu e o meu grupo, não tão fiéis a procissões, seguimos de carro a fim de esperar a chegada do grupo de fiéis ao monte da Santa. Não para a minha surpresa, já que houve um pequeno congestionamento no caminho, vários outros carros já estavam estacionados no terreno baldio próximo ao monte. Então saímos do carro e fomos procurar um local adequado para assistir à peça que seria encenada logo mais. Ficamos ora de pé, ora sentadas, conversando.

Sabíamos onde a procissão estava porque o grupo de pessoas formou um “tapete” de velas acesas. Quando os fiéis começaram a se aproximar, a minha mãe fotografou-os. Eles chegaram, finalmente, e a peça começou. Era a cena em que Pilatos lava as mãos e “acata” a “decisão” dos judeus (assim Roma ficou isenta da morte do “filho de Deus”) de soltar Barrabás e... Todos já sabem o resto!

A peça acabou, todos apagaram as suas velas, muitos jogaram os papéis que serviam de “abajur” para as velinhas no chão (¬¬) e seguiram “catárticos” para as suas casas. Nós entramos no carro de novo e seguimos para uma pizzaria. Na pizzaria comemos e bebemos (cerveja). À meia-noite fomos para a casa.

Ouvi um relato, no dia seguinte, que um carro do governo do Estado da Bahia – aquele Fiesta branco? Não sei – estava entre outros carros que iam à procissão, com três mulheres dentro. Não posso afirmar qual o caráter daquela locomoção, tão pouco o das mulheres. Sei apenas que esse tipo de carro só deve ser utilizado em serviço. Mas talvez elas estivessem em serviço, quem sabe?!

A moqueca de peixe do almoço da quinta e a pizza foram somente a largada das ações pecaminosas. Nos dias seguintes, tudo foi uma gula só: mais pizza, bacalhau na sexta – que fiquei bem claro -, churrasco de bode no sábado e, para fechar com chave de ouro, aniversário de criança no domingo. Pensei, depois dessa maratona gastronômica: agora, só tomando Herbalife!

Ah, claro, no Domingo de Páscoa todas as crianças estavam ansiosas por receber os seus ovos de chocolate, umas pelo chocolate, outras pelos brinquedos que vinham dentro. E eu, como boa adulta que sou, ensinei uma delas a usar o brinde que veio em um dos seus ovos de chocolate.

*Frase de Leonardo Bahiense, durante uma conversa descontraída, que não foi em Serrinha.
Foto: A igreja da cidade. Ao lado, pintado de amarelo, o muro da casa onde fiquei hospedada.